Flávio XL e “The Mushroom Tape”, o disco mais ousado do ano

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O rapper carioca Flávio XL lançou em outubro o disco “The Mushroom Tape”, o malote sonoro que correu contra as ondas.

Flávio XL é certamente um dos nomes mais interessantes do cenário do Rap carioca por toda correria que vem produzindo ao longo dos anos. Rap de adulto prezando a vivência nua e crua, talvez por isso sejam sons tão bom sem abdicar da sujeira que nos aproxima da realidade. A questão é que o Flávio não faz o som que você quer ouvir, mas diz no som aquilo que você com certeza precisa escutar.

A Tape do Cogumelo

Os últimos anos sem sombra de dúvidas não foram tão bons como o mundo imaginava que poderia ser, o desastre da pandemia deixou neuroses pelo caminho. No entanto para os melaninados (como diz o Flávio) e os moradores de Favela há certas neuroses que aparentemente estão sem vacina há séculos. A realidade da violência no gueto (que não parou com a pandemia), uma negligência severa vinda da política, sucateamento de saúde, educação e etc…

É nesse cenário caótico que nasce o disco “The Mushroom Tape” do Fávio com participações de Pingo do Rap, Mano Teko, Fábio Emecê, Helen Nzinga e Dudu Foxx. Ouso com muita propriedade dizer que esse é o disco mais ousado do ano e mais necessário também. A Tape do Cogumelo fala diretamente com quem também está nesse caos, acima de tudo levantando e marcando direções na mente de quem luta diariamente.

“Marcar os passos dados desde o levantar da cama, desde o abrir a porta com coragem e esperança para vislumbrar o amanhã que o mundão no deve, mas finge que não é com ele.”

Disco “The Mushroom Tape” disponível no YouTube:

Ousar não cantar oque você quer ouvir…

The Mushroom Tape” tem 15 faixas muito bem construídas que exploram essa realidade cruel mas ao mesmo tempo esperançosa, afinal oque seria do mundo sem um pouco de fé na melhoria. Como dito anteriormente esse não é um disco que soa aquilo que você quer ouvir, oque é no mínimo interessante. É curioso uma proposta dessas porque no cenário atual de um país com muitos problemas e segregado politicamente o contraditório ou qualquer som que não afirme seus gostos é geralmente rejeitado.

No entanto a surpresa sonora da Tape do Cogumelo e principalmente sua ousada proposta de não cantar a moda tornam esse um disco espetacular. “The Mushroom Tape” é maduro e transforma em música a vivência da periferia para falar com a própria periferia. Em paralelo o disco sonoramente abraça as raízes do som de preto e favelado, o Funk, além de outros elementos como Grime e mais.

“Não falo oque tu quer mas aquilo que precisamos, sem viver me lamentando mas bato na mesma tecla. Meu som não é pra discoteca, temos diferentes metas, nunca foi pelas pepecas que a caneta vai rimando.”

Trecho de “Intro – Ode Grandmaster Raphael” da Tape do Cogumelo.

O fundamento

O fundamento é nítido quando o Flávio XL canta e rima em cima das batidas inconfundíveis, é o Hip Hop em sua forma mais honesta se expressando. Incertezas, pensamentos e ideias livres se decompondo para que outros possam surgir tão fortes quanto. Essa é a Tape do Cogumelo, que você pode até não querer ouvir… mas precisa.

Conheça também o EP “The Mushroom Esporos Funk“com alguns remixes do disco.


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