O rap hoje está incorporado no cenário musical brasileiro, quebrou paradigmas e saiu da periferia para ganhar o grande público, neste artigo vamos lembrar alguns discos que foram importantes para valorização da marca rap nacional e completam 20 anos em 2021.
Iniciamos ano de 2021 com o rap nacional em alta, impulsionados pelo trap e até por alguns artistas que flertam com o pop, hoje nosso gênero musical é o 6º mais consumido nas plataformas de música, chegando a liderar algumas playlists. Os rappers Hungria, Delacruz, Xamã, Matuê e Orochi formam o top 5 dos mais ouvidos no Spotify por exemplo, mas nem sempre fomos tão populares.
Para chegar a esse novo nível o caminho do rap teve de ser desbravado por MC’s que mantiveram um discurso forte e gravaram seu nome na história do movimento, como os pioneiros Thaíde e DJ Hum e os lendários grupos Racionais MC’s, RZO , 509 E, chegando até o Planet Hemp de Marcelo D2, além dos talentos de Sabotage, MV Bill, Rapin Hood, GOG, Ndee Naldinho entre muitos outros pois independente da sua forma de protesto soavam em uma frequência diferente daquilo que o grande público queria ouvir.
A palavra RAP por si só era encarada com desconfiança e preconceito, a sociedade considerava perigoso a televisão transmitir mensagens de crime e desobediência. Mas a mídia não podia conter as proporções que o hip hop tomou nos estados unidos e o sucesso também no Brasil com o enorme potencial que a indústria fonográfica via neste negócio.
Enquanto aprendíamos a navegar pela Internet lá no início dos anos 2000, o acesso a informação era mais escasso, porém redes sociais começavam a nos conectar, fossem em comunidades no Orkut ou troca de mensagens no MSN. Com alguns marinheiros a deriva cabia então ao rap entregar a famosa ‘mensagem’. Listamos aqui 7 discos clássicos do rap nacional lançados em 2001, mais uma pra série nunca esquecer.
A Marcha Fúnebre Prossegue – Facçção Central:
O álbum ‘A Marcha Fúnebre Prossegue‘ do grupo Facção Central é o sucessor do polêmico ´Versos Sangrentos´, com batidas fortes e letras de protesto, relacionadas aos temas violência policial, corrupção, fome e a ineficácia do governo. Somente para contextualizar lembramos que ‘Versos Sangrentos‘ foi alvo de censura, o clipe da faixa “Isso aqui é uma Guerra” foi ao ar durante seis meses e chegou a passar na MTV, mas logo foi censurado e retirado de circulação e os integrantes Eduardo, Dum Dum e Erick 12 foram acusados de apologia ao crime.
Lançado em 2001 ‘A Marcha Fúnebre Prossegue‘ é o quarto álbum de estúdio do Facção Central. O disco veio logo após o episódio da censura e já na primeira faixa do álbum o Facção Central já pôs uma introdução à notícia veiculada em vários telejornais com os dizeres “Rap que faz apologia ao crime, Facção Central“, divulgado até mesmo no Jornal Nacional por Fátima Bernardes. Essa introdução é composta por vários recortes de noticiários da televisão brasileira. Após a faixa “Introdução”, vem em seguida a faixa “Dia Comum” e depois a faixa “A Guerra Não Vai Acabar“, uma espécie de “carta-resposta” a censura do videoclipe.
“A Guerra Não Vai Acabar” inicia com uma letra forte com críticas a promotoria, dizendo “Aí promotor, o pesadelo voltou, censurou o clipe mas a guerra não acabou; ainda tem defunto a cada 13 minutos das cidades entre as quinze mais violentas do mundo“, e no refrão da mesma música eles dizem “Pode censurar, me prender, me matar, não é assim promotor que a guerra vai acabar“. Outras críticas seguem no decorrer do álbum e nelas se destacam “A Marcha Fúnebre Prossegue” e “Desculpa Mãe“. Mais dois discos foram lançados depois de ‘A Marcha Fúnebre Prossegue’ sendo eles ‘Direto do Campo de Extermínio‘ e ‘O Espetáculo do Circo dos Horrores‘.
O Lado B do Hip Hop – Sp Funk:
O primeiro álbum do grupo SP Funk é uma das relíquias do rap nacional, intitulado ‘O Lado B do Hip-Hop‘, foi lançado no ano de 2001 e contou com participação de artistas como Thaíde e Dj Hum, Z’África Brasil, Sabotage, Kamau, Suave, Max BO, RZO entre outros nomes, esse trabalho foi lançado pelo selo Brava Gente de Thaíde e DJ Hum.
Como o nome sugere ‘O Lado B do Hip-Hop’ mostrou uma outra face da quebrada mirando numa vibe com menos tiros e um pouco menos sangue. Entre as ótimas faixas chamam a atenção a participação de RZO e o Sabotage na música “Enxame“, na música “Fora de Foco” participou um grupo chamado S.T.A (Somos Todos Aliados) e o Z’África, a música “4 Cavaleiros” conta com Thaíde.
O lado B do hip-hop não é necessariamente o lado B do Rap, já que envolveu o pessoal do break e do grafite também. O disco inteiro foi assinado pelo produtor Bomba, com exceção da faixa “Fúria de Titãs” que foi produzida por DJ Hum.
‘Seja Você Mesmo (mas não Seja sempre o Mesmo)’ – Gabriel, o Pensador:
‘Seja Você Mesmo (mas não Seja sempre o Mesmo)’ é o quinto álbum de estúdio do rapper Gabriel, o Pensador, lançado em 2001 pela gravadora Sony Music. O disco considerado um clássico do rap nacional contém ótimas faixas como a famosa “Até quando?”, “É pra rir ou pra chorar?”, “Mário” e “Brasa”, que trazem uma diversidade maravilhosa de formas de protestar nas músicas. Pensador mostrou ao Brasil uma forma diferente de fazer rap e apesar de ser muito criticado pelo próprio movimento aqueceu a cena daquela época.
O disco tem uma concepção interessante em sua capa: na frente se vê uma foto de Gabriel ainda criança, encostado na janela de casa, na contracapa ele já adulto exatamente no mesmo local. O álbum havia alcançado a incrível marca de 100 mil cópias vendido em setembro de 2001, um marco para a época. Alguns críticos chegaram a classificar o álbum como o melhor da carreira do artista.
‘Se tu Lutas, tu Conquistas’ – SNJ:
‘Se tu Lutas, tu Conquistas‘ é o primeiro álbum de estúdio lançado pelo grupo Somos Nós a Justiça, nessa formação haviam Sombra, Cris, Rebeld, Minari, Cabeça e DJ Gilmar de Andrade. Contado com 11 faixas e entre elas algumas nostálgicas como “Se tu Lutas, tu Conquistas” a qual da nome ao disco e também a música “Viajando na Balada” que teve seu clipe indicado na categoria de “Melhor Vídeo Clipe de Rap” do VMB da MTV em 2001.
Confira o vídeo do SNJ apresentando a música tema do disco no programa Manos e Minas da TV Cultura:
‘Sujeito Homem’ – Rappin’ Hood:
‘Sujeito Homem‘ é o primeiro álbum de estúdio lançado pelo rapper Rappin’ Hood, gravado em 2001 em parceria com a gravadora Trama disco conta com 14 faixas, e na sua maioria com participações especiais, como Pregador Luo, Caju e Castanha, Péricles entre outros nomes. ‘Sujeito Homem’ rendeu a Rappin Hood o título de “Revelação do Ano” em 2001 na segunda edição do extinto Prêmio Hutúz.
‘Ruas de Sangue’ – Visão de Rua:
O grupo de rap Visão de Rua teve início em 1994 na cidade de Campinas, interior de São Paulo, liderado pela lenda Dina Di junto de Tum e DJ O.G, em uma das formações também contou com Lauren.
O Visão de Rua lançou seu primeiro álbum em 1998, intitulado ‘Herança do Vício‘. Já em 2001 veio o segundo disco, intitulado ‘Ruas de Sangue‘, o álbum contém nove faixas, com destaque para “Mulher de Malandro” e “Meu Filho, Minhas Regras“, a música que leva o mesmo nome do álbum e conta com o grupo Consciência Humana é uma das únicas com participações extra, além de “Sangue B” com o grupo Terceiro Ato. Com esse importante trabalho ao final de 2001, ganharam pela segunda vez o Prêmio Hutúz na categoria “Melhor Grupo Feminino”.
https://www.youtube.com/watch?v=OCbj52NP-34
‘Ruas de Sangue‘ foi sucedido pelos álbuns ‘A Noiva do Thock‘ de 2003, ‘O Poder nas Mãos’ de 2007. No dia 20 de março de 2010, com 34 anos de idade, Dina Di faleceu após contrair uma infecção hospitalar. Ela tinha dado à luz a sua segunda filha chamada Aline, em uma clínica particular localizada no bairro de São Mateus, na zona leste da capital paulista.
Marcelo D2 apresenta Hip Hop Rio:
O projeto ‘Marcelo D2 apresenta Hip Hop Rio‘ lançado em 2001 pela gravadora Tratore, conta com 13 faixas e se trata de uma coletânea musical incrível que mostra ao público inúmeras bandas de hip hop selecionadas pelo artista e uma faixa exclusiva do próprio D2.
Em ‘Marcelo D2 apresenta Hip Hop Rio‘ a faixa “MC´s Emergentes” tem participação de Mahal, “Estaca Zero” com 3 Preto, “Rude Boy Style” com Black Alien & Speed, “Lenda Viva” conta com Inumanos, “Pula na Muvuca” tem Negaativa, “Prioridade” BNegão, “Positive Sound” com o grupo Núcleo Sucata Sound, “Zona Norte” feat grupo Artigo 331 e “Terror na Conduta – Guerra 2” com o grupo Esquadrão Zona Norte.
O rapper Marcelo D2 também não era tão acolhido pela galera conservadora do rap original, mas hoje é considerado uma peça fundamental para disseminação da cultura de rua, sendo respeitado por todas as tribos.
No mesmo ano D2 com seu grupo Planet Hemp que fazia um som alternativo onde misturava rap,rock, ragga com uma pitada de punk, lançou o ‘MTV ao Vivo Planet Hemp‘, o primeiro e único álbum ao vivo do grupo, esse foi o último trabalho lançado pela banda antes da dissolução em 2001. As faixas do álbum foram lançadas no canal oficial do Planet Hemp no Youtube, em Janeiro de 2017, porém, sem menção à MTV Brasil na capa do vídeo ou título.
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