“A mulher negra” comumente é tema de muitas pesquisas e estudos, debates em fóruns e assunto presente na mídia. E, na maioria das situações, a mesa debatedora é formada integralmente por outras etnias que discutem, em terceira pessoa, a definição da mulher negra e seu papel na sociedade, seus sentimentos e dramas pessoais, sua relação com o trabalho, a cultura que a envolve, etc., reforçando, assim, estereótipos e criando novos padrões. O filme-documentário “Nega que é nega não nega ser nega não!”, ao invés de falar da mulher negra , permite que a própria se apresente demonstrando o reconhecimento quanto à capacidade intelectual da mulher negra , seu poder de observância, criticidade e percepção do papel no momento social que exerce e no qual está inserida.
A película não pretende retratar a afro descente, como se tal tarefa fosse possível . Ao contrário, provoca a reflexão, desmistificando o mito de homogeneidade. As exibições promovidas no primeiro semestre do ano de 2017 comprovam que há uma inquietação do público e até mesmo entre as entrevistadas que ampliam o seu pensamento racial ao conhecer novas diretrizes das mulheres negras. O confronto com as “verdades absolutas” presente no discurso da maioria quando o assunto é mulher é perceptível a cada exibição.
Durante os 90 minutos de exposição o documentário revela mulheres em extremos fortes e ao mesmo tempo fragilizadas diante do preconceito. Algumas ativistas, às vezes indiferentes ao tema, negras periféricas e também negras que ocupam os mais altos níveis da diplomacia , cases de sucesso e de fracasso, umas casadas, boêmias e confortáveis em sua posição. Tem também as leigas, as intelectuais, todas estas versões em uma única apresentação. O desquite, a emancipação, o puritanismo, o conhecimento, a pureza, as artes, a ciência , o esporte , a nobreza e a marginalidade. Um espetáculo que permite o acesso à diversidade dentro da mesma raça, estas mulheres são loiras, sãos encrespadas, são lisas, são encaloradas, são magras, são gordas e todas elas são negras.
Para o diretor e idealizador do “Nega que é nega não nega ser nega não!”, Fabio Nunez, não há coadjuvantes, todas são protagonistas. A motorista , a atleta, a juíza , a consulesa, a apresentadora, a cabeleireira, a advogada, a médica , a mulher de celebridade , a poetisa, a letrada, a analfabeta, a depressiva, a feliz, a mãe, a esposa, a filha ,a amiga, a revoltada.
Elas se dissiparam frente ao desafio de viver em uma sociedade tipicamente brasileira , a qual o processo do pensar nos deixa à dúvida se há preconceito, se é mero vitimismo, se há discriminação. Elas dissiparam a tentativa daqueles que as discriminam esbanjando autoestima.
O público
O vídeo já foi apresentado em bares, teatros, universidades, casas de cultura , entre eles Faculdade São Judas, Faculdade Zumbi dos Palmares, Hostel Brasil Boutique, Bendito Botequim, Etecs e diversas unidades do CEU. A primeira amostra aconteceu no Espaço Itaú de Cinema , em 2015, em São Paulo. Os locais aonde aconteceram as sessões explicam um pouco do público, formado, em princípio, por docentes, acadêmicos, ativistas e influencers.
Atualmente o debate inclui mentes inquietas que se atraem pela livre meditação e não por imposições. Pessoas que burlaram as segregações ideológicas, umbandistas, pastores,machistas, feministas assistem juntos ao documentário e externam as suas convicções. O curioso é que todos tem embasamento em trechos do próprio filme para suas argumentações e elegem para si a “melhor” entrevistada, identidade proporcionada pelo discurso das depoentes. Todos se identificam com uma mulher ao mesmo tempo que se opõe a uma consideração, aprendendo com ela . “O melhor momento das sessões são os debates, quando, após o filme, o público interage com as entrevistadas presentes que, por sua vez, dão continuidade à narrativa que introduziram no vídeo”, explica o diretor Fabio Nunez.
As manifestações se dividem entre o amor e o ódio, mas todos saem provocados e ao mesmo tempo sem condições de argumentar, uma vez que todas as narrativas não são produções, e sim, experiências vividas, até mesmo sofridas pelo elenco. Todas saem com sentimento de profunda admiração e com um incontido sentimento de perplexidade. Este documentário, conta com um elenco genial, estou falando de guerreiras como, Leci Brandão, Eliane Dias, Cris SNJ, Joyce Ribeiro, MC Soffia, Myrella Santos e muito mais. Confira abaixo o filme na integra, e vejam quantas histórias lindas de luta e superação essas mulheres carregam consigo.
“Nega Que é Nega Não Nega Ser Nega Não!” – O Documentário:
A iniciativa
Fabio Nunez é cantor, compositor, acadêmico de teologia e bacharel em musica. Ao gravar o clipe da musica “Nega que é nega não nega ser nega não” foi despertado a produzir o filme com seus próprios recursos e promover a sua disseminação. Filho caçula de uma família de sete filhos, o diretor tem como referência de mulher negra a sua própria mãe, a qual ele admira pela garra de criar três pessoas com deficiência. Após anos de experiência em apresentações por meio da musica , Nunez acredita que a arte em todas as suas flexões pode ser agregadora e exceder o parnasiano.
Fabio Nunez – Nega Que é Nega Não Nega Ser Nega Não! Part. Cris SNJ:
Fiquem todos com Deus, e até uma próxima.
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